sexta-feira, 29 de abril de 2011

Quando não há consolo possível


Miramar, 13 de Setembro de 1957

Estou sentado num penedo diante do mar, a esmoer mais uma pílula amarga do destino. Não digo de que natureza ela é, porque só me interessa neste momento registar o bem que nos pode fazer em certas horas a impassibilidade duma grandeza sem contingências. A terra e os pobres mortais que a habitam, por fraqueza de condição, não conseguem levar a indiferença aos últimos limites. E apenas ela é consoladora, por não oferecer consolo quando não há consolo possível.


Miguel Torga, Diário VIII

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